Águas profundas
Nesses últimos cinco anos, enfrentei a força das águas: o mar pouco a pouco me magnetizou e me retirou do espaço da guerra, até que me arrastou consigo para o silêncio de seu fundo. Nele ouvi muitos sons irreconhecíveis para os habitantes da superfície. No continente, muitas mudanças aconteceram, mas o mar me acolhera e me fortalecera.
Quando voltei, embora ainda um pouco apegada à água, senti novos ares se aproximarem da costa. Então comecei a contar aos ventos sobre o que aprendi no coração do oceano. É assim que agora um pouco de mim tem percorrido toda a Terra, ecoando uma nova voz a quem tem ouvidos para ouvir.
Já não sou apenas eu comigo mesma, mas parte essencial de um todo, que unido abraça os quatro cantos do mundo, os sete mares e as nove esferas celestes — na linguagem dos antigos — ou todo nosso rico planeta oblongo e seu sistema solar — na linguagem dos contemporâneos.
Dentro de mim, passado e presente se unem e conversam entre si coisas que eu desconhecia ou fugia de conhecer, e arquitetam um futuro diferente daquele que eu previra antes de entrar no mar.
Luiza Carvalho
Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2023
